segunda-feira, 25 de maio de 2009

Luna Clara & Apolo Onze

Luna Clara & Apolo Onze foi um presente. Um livro que recebi de uma pessoa ímpar. Li 327 páginas como se me salvassem dos desatinos de cobras e lagartos em que a vida nos põe de vez em quando. As fantasias de Aventura, Doravante, Pilhério, Luna Clara, Apolo Onze, Equinócio, Seu Erudito, Odisséia, Divina, entre outros, me levaram longe, me transportaram às nuvens. Uma autora que desconhecia, mas que me foi apresentada da melhor forma.

Ao ler o calhamaço à noite, percebia despertar de forma incomum. Os devaneios de Adriana Falcão habitaram meus sonhos, profundos, não mais insones. Também de forma singular, não separei o último capítulo. As últimas cem páginas foram lidas ininterruptamente. Queria alcançar logo os encontros, as possibilidades.

E rezo a Nossa Senhora do Não me Torne Chata. Quero que o aniversário dos anos não me aborreça e que eu continue a me divertir com livros assim e filmes como o Divã... Além, também, de rezar para a "Nossa Senhora do Final Feliz"...

Obrigada, minha doce e querida amiga, Flavinha! (E não venham me dizer que esta vírgula não existe. Neste caso, ela é obrigatória)

“Luna Clara mais uma vez se deu conta do quanto era desorganizada sua cabeça.
Uma lembrança, uma imaginação, uma decepção, uma nova esperança, uma reflexão, um dane-se, um desejo, outro, muitos, tudo fora das gavetas, numa bagunça muito maior do que a de seu quarto.
Um lado queria ir, um lado preferia ficar, um pensava em Doravante, outro gostava de Apolo Onze, outro estava na dúvida, outro...”

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Tempo seco

Não posto mais minhas matérias no blog por motivos diversos. Algumas eu colocarei devido a algumas particularidades. A de hoje, por exemplo, é um texto que escrevi sobre o lançamento do livro da editora de cultura do jornal onde trabalho. Obviamente, a insegurança esteve comigo antes, durante e depois de entrevistar e escrever. No fim, acredito que saíram boas palavras... E, é claro, obrigada, Clara!

13/05/2009
Clara Arreguy lança seu terceiro livro nesta quarta-feira

Ana Rita Gondim

Miriam deixa sua cidade natal, Belo Horizonte, e chega a Brasília. Para se locomover, prefere os táxis ao transporte público. Nisso, se relaciona costumeiramente com os motoristas, para os quais se torna confidente e ouvinte. Um deles, Rodrigues, torna-se grande amigo devido à afinidade que sentem. Esses momentos, “enquanto o taxímetro está ligado”, são seus instantes menos solitários, únicos em que se relaciona com outras pessoas e onde encontra “umidade” na “secura” da capital federal.

É assim a história inicial do terceiro livro, segundo romance, de Clara Arreguy, editora do caderno de cultura do Correio Braziliense. Tempo seco, que será lançado nesta quarta-feira (13/05), às 19h30, no Bar Brahma (201 Sul), conta esses encontros e diálogos ambientados em corridas de táxi. Miriam e Rodrigues são os protagonistas, mas outros personagens, assim como o momento político do enredo, dão força às linhas inicialmente escritas durante as férias da jornalista.

Apesar das semelhanças entre Miriam e Clara, ambas vindas de Belo Horizonte e moradoras de Brasília, a autora avisa que o livro é uma ficção. “Miriam tem muito a ver comigo, mas é uma personagem mesmo. Ela não é autobiográfica, nem as histórias são reais”, elucida. Para provar a divergência entre as duas, Clara Arreguy conta que está satisfeita na cidade onde reside desde 2004. “Uma diferença é que a personagem chega a Brasília e tem uma adaptação difícil. Hoje eu sou feliz aqui. A personagem não, ela patinou aqui, é solitária, tem dificuldade de se relacionar com os desconhecidos, vive muito dessa conversa e dessa relação que dura enquanto o taxímetro está ligado”.

Ambientado no momento em que Luiz Inácio Lula da Silva torna-se, pela segunda vez, o presidente do país, a realidade é novamente trazida um pouco para a ficção nas páginas de Tempo seco. Política é outro assunto de que a autora gosta bastante e que foi tema de seu livro de memórias lançado em 2005, Fafich. Muitas das conversas nos bancos de táxis têm como base o momento da época. “Tem muita política no fundo, com personagens que defendem o Lula, que estava muito à frente nas eleições, ponho na fala dos personagens esse apoio. Mas a história é dela, não é a minha”, esclarece Clara, mais uma vez.

A imagem da capa e o título da obra remetem imediatamente ao quadrilátero central do Brasil, mas diz ainda mais. “A secura não é só meteorológica”, afirma a autora. Tempo seco é também a solidão de Miriam, de Rodrigues, da inabilidade em se adaptar, em construir laços, da dificuldade de se misturar onde tantos de origens diversas estão em convivência comum. “É uma marca da cidade e da infelicidade das personagens principais. Sou muito feliz aqui, mas muita gente não conseguiu. Ela é uma exilada”, pontua secamente a autora, em contraposição à “umidade” que transborda. Questionada sobre se era uma obra dramática, Clara afirma verbal e gestualmente: “muitos me perguntam isso e ele é um livro triste, sim”.

Nascida em 1959 em Belo Horizonte, Clara Arreguy é jornalista formada pela UFMG e escritora. Foi crítica de teatro, repórter, editora assistente de Cultura do Estado de Minas entre 1986 e 2004. Desde maio de 2004, atua como editora de cultura do Correio Braziliense. Ela é autora de Segunda divisão (romance, Editora Lamparina) e Fafich (memórias, Editora Conceito), lançados em 2005.

Publicado no Divirta-se

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Descobrindo-me

Descubro-me velha. Gostos, preferências, vontades, mudaram. Descubro-me antiga. Quando muitos riem, eu me constranjo. Descubro-me cansada. Histórias se repetem. Descubro-me medrosa. Medo dos sonhos permanecerem apenas fantasias. Descubro-me criança. Ainda procuro o dedo-mindinho a me guiar quando já aprendi a andar. Descubro-me adulta. Dias atribulados, contas a pagar. Descubro-me menina. Invento amores impossíveis para florear noites solitárias. Descubro-me mulher. Os anos correm.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Dois irmãos


Guardo o último capítulo, assim como já fiz com outros livros. Não gosto de despedidas, nem que sejam com as últimas páginas. Além disso, tenho receio de a obra me decepcionar com o final. Uma das manias que tenho não é ler as primeiras palavras de um livro em uma prateleira, mas procurar a última frase. Talvez como se pudesse me trazer uma resposta, talvez para descobrir como termina uma história.

Por um mês, Dois irmãos, de Miton Hatoum, me acompanhou nas manhãs e nas últimas horas do dia. Queria alcançar o fim da rinha entre os irmãos gêmeos, me fascinava o amor de Halim por Zana, desenhava Manaus em meus pensamentos com as descrições do autor. Por fim, o mistério de Domingas e do narrador tornou-se o cerne da leitura. E o mistério não se desvenda.

Opino, talvez, por bons ou maus livros pelas anotações e grifos que realizo. Houve alguns que gostei sem ter riscado muita coisa. Mas vários me chamam a atenção por passagens e ditos interessantes, inteligentes, que me põem a pensar e voltar um dia a reler. E Dois irmãos teve um pouco disso. E certamente outro volume de Milton Hatoum ocupará meu tempo.

“’Louca para ser livre’. Palavras mortas. Ninguém se liberta só com palavras. Ela ficou aqui na casa, sonhando com uma liberdade sempre adiada. Um dia, eu lhe disse: Ao diabo com os sonhos: ou a gente age, ou a morte de repente nos cutuca, e não há sonho na morte. Todos os sonhos estão aqui, eu dizia, e ela me olhava, cheia de palavras guardadas, ansiosa por falar. (...)
Naquela época, tentei, em vão, escrever outras linhas. Mas as palavras parecem esperar a morte e o esquecimento; permanecem soterradas, petrificadas, em estado latente, para depois, em lenta combustão, acenderem em nós o desejo de contar passagens que o tempo dissipou. E o tempo, que nos faz esquecer, também é cúmplice delas. Só o tempo transforma nossos sentimentos em palavras mais verdadeiras, disse Halim durante uma conversa, quando usou muito o lenço para enxugar o suor do calor e da raiva ao ver a esposa enredada ao filho caçula. (...) Alguns dos nossos desejos só se cumprem no outro, os pesadelos pertencem a nós mesmos.”

sexta-feira, 1 de maio de 2009