domingo, 6 de fevereiro de 2011

Domingo sem fim

Num domingo sem fim, volví os olhos a Vinicius. Como que cansada de qualquer coisa que eu inventasse para as horas passarem, lembro de haver ganhado um livro por ser, digamos assim, jornalista. Desde que o recebi, ansiava pela leitura. Mas resolvi dedicar o hábito, há algum tempo perdido, a certames públicos que, até agora, de nada serviu. E, por isso, ele (Vinicius) havia ido a outros olhos. De volta a minha prateleira, folheio e começo a ler aquele que um dia cunharam “meu poetinha preferido”.

Antes dele, motivo por que me cansei, joguei-me só ao sofá e, por coincidência, assisti a filmes sobre Zuzu Angel e Rubin Hurricane Carter, meio que querendo jorrar toda aquela TMP que chorava por dentro. Sorte de estar só nos dois momentos. Canso. Quero sair. Não. Melhor ficar em casa. A solidão invadiu-me neste primeiro domingo de fevereiro. Não, também não quero ver o Fantástico.

Leio O exercício da crônica e invejo os cronistas. Imagino que seja um escrever mais por prazer do que por obrigação. Uma escrita livre das amarras do lead, do factual e da linguagem direta, nua, crua, sem graça, limitada. O bom de ler (preciso voltar à literatura, mas preciso também insistir na carreira) é se transportar a outro mundo, é ser outra pessoa. Vi-me, descrita pelas palavras de Vinicius, sentada na poltrona a olhar através da janela e caçar algo que motivasse o surgimento de um texto.

Mas aí chega o Poema de aniversário e faz-me lembrar que isso acontecerá, não o poema, o aniversário, daqui alguns meses... Não sei se continuo Vinicius ou vou para o Regimento. Duas urgências. Preciso curar dois males. Mas decido continuar Vinicius... Quis um descanso depois de haver acordado às 6h da manhã em pleno domingo sem plantão, mas com um exame no qual permaneci sentada por quatro horas.

E do nada me bate a vontade de escrever. A inspiração que eu procurava para qualquer coisa, para escrever, para começar o dia, para dormir com o pensamento longe. Ler parece que faz escrever. A solidão parece que faz escrever. Cansar-se de qualquer coisa parece fazer escrever. E era tanto cansaço e nenhuma linha saía... Parece que palavras chamam palavras... Pensei em pegar um caderno, mas os punhos me doem ao menor esforço com uma caneta. Ligo o computador... Não tenho nada para fazer, são ainda 20h30...

Jogo quaisquer palavras. Não quero me preocupar se alguém vai ler, o que pode pensar um raro visitante, se sou “vaidosa” por escrever na primeira pessoa. Quis simplesmente fazer alguma coisa para as horas deste domingo interminável passarem. Quis logo outro dia chegar para um outro amanhecer talvez me trazer o inusitado, a surpresa, a mudança. A mesmice incomoda, maltrata, endurece, ensimesma. Tento mudar. Em alguns casos, a mera tentativa é crime. Tomara que, no meu caso, a tentativa seja suficiente para a mudança. E volto ao Poema de aniversário... E o domingo ainda não acabou...