quinta-feira, 22 de maio de 2014

Rita

Esta semana, foi aniversário de morte de minha avó. E fiquei a pensar sobre como é carregar uma homenagem no nome. Parte de meu nome, Rita, foi escolhido para homenagear minha avó materna. Como filha mais velha de sua filha caçula (11ª), não tive oportunidade de conhecê-la melhor ou de conviver com ela, seja pela distância geográfica (eu na capital federal, ela em Areia, brejo paraibano) ou pela distância das idades. Lembro de suas letras bordadas, pois trocávamos cartas. Lembro de sua cabecinha branca. Mas não lembro da pessoa. Não sei o que carrego dela em meu nome. Diz minha mãe que escolheu Ana para abrandar ou adoçar a dureza do nome Rita. Será que vovó Rita era durona como soam as letras? Será que o meu jeito bravo vem do nome ou da terra de origem de minha família? Numa das vezes que tive a chance de pedir autógrafo ao Lenine, ele escreveu, numa das capas dos discos, a dedicatória “para Ana Rita Moleza” em oposição a Ana Rita Durão, que, como disse, era o nome de uma escritora. Mas acredito que essa “moleza” está apenas naquelas letras pernambucanas, não nesta brasiliense de sangue paraibano. Tive problemas com meu nome quando mais jovem, pois sempre me confundiam, ainda confundem, com o nome da filha de Elis Regina ou da paixão de Roberto Carlos. Aprendi a não corrigir. Aprendi a amar meu nome. Um nome raro, cuja única homônima que conheço tem diversas coisas em comum comigo. Será responsabilidade do nome? Jamais daria nome de uma pessoa que desgosto a um filho ou uma filha. Não gostaria de chamar alguém que amo, ainda mais saído de mim, com uma lembrança desagradável. Ou talvez porque possa carregar algo não muito simpático da pessoa do nome original. Então, penso no peso que tem meu nome. Quem foi vovó Rita para que eu não estrague a herança que carrego? Espero que sua grandeza não tenha sido tamanha que eu não dê conta de levar. Espero que sua grandeza tenha sido tamanha para que ela também me alcance. É difícil saber o que vem com esse nome ou o que espero desse nome. Então, culpo Ana. Ana quebra a totalidade da minha responsabilidade. Posso ser Rita, mas sou e serei sempre também Ana. Rita, cujas palavras os pequenos não consegue pronunciar. Posso ser também Naíta, na língua das crianças. Posso ser as duas, posso ser uma, alternada com a outra. Mas Rita é inevitável. Os amigos escolhem mais este nome, talvez por combinar mais comigo ou porque é menos comum que Ana. E, há 15 anos, morria a homenageada de parte de meu nome. É muito ter o nome do amor de quem amamos. Espero que eu corresponda a tanto.

Rita e Ana Rita



segunda-feira, 12 de maio de 2014

Tão cansada...

Depois de haver decidido ser feliz em todas as escolhas, acordo com um cansaço sobremaneira. Senti-me cansada com tudo o que de inusitado tenha surgido. São tantos fatos e tantas experiências inesperados que me esgotaram qualquer disposição. Não que surpresas não sejam bem-vindas, mas a fadiga prevaleceu diante de tanto acaso. É como se de tanto ter me aberto, agora eu gostaria de fechar-me. Mas, se eu me fechar, nem o que há de bom poderá me alcançar, mas me livrarei da loucura que atraio no mundo. Mas, para eu continuar aberta, falta-me energia. É como se houvesse, ao mesmo tempo, muita vida ou nada dela. Muitos vazios. Muitos pequenos momentos cheios de vida. Mas talvez eu queira apenas um momento grande cheio de vida. E não dá para prever ou saber se ele virá. Parece que a vida é uma grande inércia, percebamos ou não. É como se eu quisesse preencher todos os segundos diários e, ainda assim, é como se eu não preenchesse nada. Se eu não tiver mais a loucura do mundo perto de mim, sentirei falta? Ou estou cansada da lucidez constante que me denuncia a loucura presente? Vejo os outros e invejo a aparente normalidade. Mas talvez todos sejamos loucos ou tenhamos algo de louco. Não sei esperar. Tenho mania de viver. Tenho mania de dar chance. Vivo a estupidez e a intensidade até porque só vou saber o quanto estúpido ou intenso seja vivendo. Não padeço do “e se”. Só estou cansada de tudo e nada, como se tudo e nada fossem ou pudessem ser a mesma coisa.