
quarta-feira, 30 de julho de 2008
O vestido

domingo, 27 de julho de 2008
Brincando com Hai Kais
Você é assado
Nós estamos fritos
Inverno maltrata
Nada alivia
Travesseiro colado
Corpo distante
Sonho acordado
Sinto seu tato
Durmo colado
Sonho de fato
Barco desliza
Água se afunda
Leve na brisa
Jogo flores
Intensos amores
Sem dores
Uma borboleta
Um escafandro
Mesma silhueta
sexta-feira, 25 de julho de 2008
Selva aqui dentro II
O que me ocorreu, surpreendentemente, foi a transposição da história para a minha vida ou a inversão da realidade para papéis que não escrevi. Fui Adriano Pontes, fui Lana Martins. Agora não me vejo como aqueles cidadãos que abordam atores e atrizes nas ruas. Vi-me nos personagens e questiono se todo leitor e/ou espectador se vêem nas páginas e tela à sua frente?! É narcisismo ver-se dessa forma ou é busca do conforto da semelhança?
O livro é delicioso, de fato, mas senti o gosto doce e amargo de suas páginas. Doce pela fruição da história, pelo despudor de cenas e personagens, pelo português bem escrito, pela convergência de admiração e realidade. Amargo por uma questão estritamente pessoal. Vi-me demasiadamente nas cenas e descrições do capítulo final. O desenrolar dos últimos acontecimentos tocaram-me no âmago, e o autor deixou-me sem chão… Li ininterruptamente para buscar o desfecho, mas ele propositadamente o deixa em reticências…
O gosto do encontro é acre-doce, bom e ruim, confortável e desagradável. É como se a língua não soubesse discernir qual sabor prepondera ao deparar-se com o alimento em sua boca. É um delicioso que intriga, incomoda, perturba. E o autor, em sua maestria, enfatiza o que sabe ser o seu intento e sabor. E, assim, mantém o suspense do leitor ao comunicá-lo para as próximas leituras. Ou melhor, não é bem uma comunicação, mas uma convocação. Sente-se falta de um ponto final, pois se busca o que é diferente no plano real, visível, tangível.
Infelizmente o livro não está disponível
quarta-feira, 23 de julho de 2008
Selva aqui dentro I
Neste último sábado, entre pintar as unhas e cuidar do cabelo, abri um romance no computador que há muito devia leitura. Acendo um cigarro para examinar as primeiras páginas a fim de saber do que se trataria a história. Envolvo-me. O belo português, a ansiedade pela história, a curiosidade pelos personagens e a admiração pelo autor fizeram com que eu lesse quase o capítulo inteiro numa tarde enquanto não chegava a hora do encontro com os amigos.
Por alguns instantes, cheguei a não querer me ausentar do quarto para manter a leitura até o fim. No entanto, não podia mais ficar envolta somente entre palavras escritas, precisava de contato humano, social. Além disso, quis também postergar o prazer pela semana que se aproximava. Ela me ocuparia após o expediente e me permitiria conhecer a literatura de um daqueles que considero seres mortais. Não digo isso para diminuir o autor. É pelo simples fato de tê-lo conhecido e tê-lo como uma de minhas metas profissionais.
Decido dar-lhe notícia da leitura de seu romance e ele me diz de sua falta de autoconfiança. Como? Como isso é possível em um dos seres mortais que tive o prazer de conhecer e a quem devoto tanta admiração? Não, este mundo está mesmo com os valores invertidos. Conheço outras tantas pessoas a quem não sinto qualquer admiração e se comprazem em levantar o nariz por serem não sei o quê… Resolvo dar-lhe uma bronca porque nada daquilo fazia sentido. Aos poucos, acho que ele recobra a lucidez e percebe a grandeza que é. Assim, espero. Ao mesmo tempo também espero que ele não a retome de forma a integrar-se ao grupo repugnante de raposas e urubus que às vezes são alguns jornalistas.
...
Próximo capítulo em breve
segunda-feira, 21 de julho de 2008
Esquecer para um dia recordar...
sexta-feira, 18 de julho de 2008
Lua cheia, Terra cheia
Me leve para qualquer lugar
Me carregue em seu dragão
Onde nem sequer haja chão
Que eu quero ver a Terra distante
Pelo menos por um breve instante
E eu tenha férias de tanto horror
E que nada mais me cause dor
Não quero rostos em pranto
De feridas que machucam tanto
Na circunferência que vejo ao alto
Quero ver beleza sem salto
E que sorrisos se abram plenos
E as tristezas sejam tão menos
É minha modesta vontade
Sem qualquer vaidade
quinta-feira, 17 de julho de 2008
Muralhas e tribunais
Não me tolha mais do que eu já me preservo
Não me peça mais limites mais do que já me impeço
Não me ponha palavras que não foram ditas
Não me aponte o dedo sem antes saber o que penso
Se quiser saber, eu digo
Se não quiser, não conclua
Se perguntar, eu respondo
Se gritar, eu berro
Se calar, eu silencio
Não me mande embora que eu vou
E vou de coração aberto
E você, de coração tacanho
Por meras palavras malditas e mal ditas
Então não me subestime
Não me vulgarize
Não me apequene
Eu sei quem sou
terça-feira, 15 de julho de 2008
“Xô, mixaria”, diz o mundo a todo instante
Coincidentemente, ontem à noite, passei horas lendo um livro em que o autor disserta em cinco páginas sobre a mixofobia. Segundo ele,
“A mixofobia é uma reação altamente previsível e difundida entre os diversos tipos humanos e estilos de vida capazes de confundir a mente, provocar calafrios e colapsos nervosos, de que estão repletas as ruas das cidades contemporâneas, assim como seus distritos residenciais mais ‘comuns’ (leia-se: não protegidos por ‘espaços interditados’). Conforme a polifonia e a diversificação cultural do ambiente urbano na era da globalização entram em cena – com a probabilidade de se intensificarem no curso do tempo –, as tensões oriundas da exasperante/confusa/irritante estranheza desse cenário provavelmente continuarão a estimular impulsos segregacionistas.
Expressar tais impulsos pode (de modo temporário, mas repetido) aliviar tensões crescentes. Isso oferece uma esperança: diferenças excludentes e desconcertantes podem ser incontestáveis e refratárias, mas talvez seja possível extrair o veneno do ferrão atribuindo a cada forma de vida um espaço físico distinto, ao mesmo tempo inclusivo e excludente, bem demarcado e protegido. Evitando-se essa solução radical, talvez se possa pelo menos assegurar para si mesmo, para os amigos, parentes e outras ‘pessoas como nós’, um território livre daquela miscelânea que irremediavelmente aflige outras áreas urbanas. A mixofobia se manifesta no impulso que conduz a ilhas de semelhança e mesmidade em meio a um oceano de variedade e diferença.”
Não é isso o que a prefeitura de bairro de uma das maiores cidades do mundo realiza na verdade? Subestimar o cidadão com uma alegação frágil é ainda tanto menos ruim do que a construção de um muro para apagar a pobreza aos olhos de empresários e executivos. Mandá-la para longe como que para confirmar “o que olhos não vêem, o coração não sente”. Que baixeza do ser humano! A que pequenez chegamos!
Isso me recorda uma cena que vi há alguns anos na capital do país. Esta foi uma das vezes em que senti raiva, tristeza, vergonha, repugnância. Numa tarde, vi uma mulher dirigir seu carrinho atrás de uma carroça. Ela buzinava para que ou o cavalo andasse mais depressa ou se retirasse da sua frente. Na verdade, ela deveria mesmo querer que aquilo estivesse bem longe de seus olhos. Minha vontade foi parar em frente a ela e lembrá-la:
“– Você vive em um dos países com maior desigualdade social do planeta. Se não quer andar atrás de uma carroça, vá morar na Suíça”.
Ah... Como o mundo podia se parecer um pouquinho com a minha cidadezinha invisível. Ou que, pelo menos, soubesse conviver com o diferente simplesmente. Mas talvez seja pedir demais que as pessoas parem de olhar para o próprio umbigo.
No entanto, como diz uma música do meu querido e admirado Lenine:
“Umbigo meu nome é umbigo
Gosto muito de conversar comigo
Umbigo meu nome é espelho
Não dou ouvidos nem peço conselhos
Umbigo meu nome é certeza
Só é real o que convém à realeza
Umbigo meu nome é verdade
Sou o dono do mundo e o rei da cidade...”
É isso, então, reis e rainhas da cidade: vivam sua realeza, fechem os olhos para a diferença, para a pobreza! Em contrapartida, lembro-me de meu sonho infantil de distribuir dinheiro em sacos de pão aos necessitados que nos abordam nos semáforos, nos restaurantes, nas ruas, nas calçadas. Não sei por que tão criança tinha este sonho, mas talvez seja para não esquecer jamais de tentar fazer algo para melhorar o mundo...
O livro de que copiei as aspas é Amor líquido, do sociólogo Zygmunt Bauman, página 133
segunda-feira, 14 de julho de 2008
Conversando com Deus
Neste instante, lembrei-me de uma vez que, logo após sair do trabalho, entro no carro para ir ao banco resolver um pagamento. Ao ligar o som, começa a tocar a música Olhos nos olhos de Chico Buarque. Assustei-me porque era exatamente o que pensava e o que precisava ouvir. Ao entrar na longa fila do banco, uma senhora atrás de mim puxa conversa. Durante vários minutos, conversamos como velhas amigas sobre o que me afligia. Depois de resolvido o depósito, despeço-me da senhora e vou para casa com a impressão de que nada daquilo foi coincidência…
Sinopse
O filme Conversando com Deus é uma adaptação do livro homônimo escrito por Neale Donald Walsch em que ele conta sua própria história. Neale sofre um grave acidente de carro no qual quebra o pescoço. No pior momento de sua vida, Walsch (Henry Czerny), faz a Deus algumas perguntas. As respostas que ele recebe tornam-se base do livro internacionalmente reconhecido.
Título Original: Conversations with God
País de Origem: EUA
Direção: Stephen Simon
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 109 minutos
Ano de Lançamento: 2006
Site Oficial: http://www.cwgthemovie.com
terça-feira, 8 de julho de 2008
Escafandros e borboletas

As primeiras cenas do filme retratam somente o mundo visto do olho esquerdo de Bauby. Só vemos o que por ele pode ser visto, em seu ângulo e em sua amplitude. Sentimos sua angústia quando, ao acordar, médicos lhe dirigem a palavra, ele, a sua, mas ninguém o escuta. Assim, então, ele descobre que tampouco fala. Com a ajuda de uma ortofonista (profissional de saúde que pratica métodos de reeducação verbal destinados a corrigir defeitos de pronúncia e elocução), Bauby comunica-se e escreve seu livro autobiográfico apenas com o piscar de um olho.
Toda a sua comunicação é realizada por uma ou duas piscadas. Ele pisca o olho uma vez para dizer "sim" e duas vezes para dizer "não". A partir disso, o visitante lhe dita letras do alfabeto e, assim, ele forma palavras, frases, páginas inteiras. A paralisia de que sofre recebe o nome de Síndrome Locked-in – fechado no interior de si mesmo –, uma doença rara que o deixou lúcido intelectualmente, mas com o corpo totalmente imóvel. Todo o tempo em um hospital, Bauby respira e come por meios artificiais, recebe ajuda da mãe de seus três filhos e de um amigo.
Grande parte do filme mostra o bom-humor e a irreverência do autor do livro e protagonista do filme. Ele leva na esportiva quando, por exemplo, dois homens responsáveis pela instalação de um telefone adentram seu quarto e não o reconhecem como homem ou mulher e fazem graça ao descobrirem que ele não fala e, por isso, não haveria necessidade do aparelho. E Bauby ainda brinca com a ortofonista ao imaginar-se dizer que lhe falta senso de humor. Também é possível esboçar um sorriso quando ele se lastima ao ver uma bela enfermeira ensinando-o movimentos com a língua para que possa se alimentar sozinho ou começar a emitir alguns sons.
Cenas tocantes também envolvem o filme, mas não de forma melodramática. A principal delas é quando seu pai o telefona no quarto do hospital. No diálogo, o pai diz que sente sua falta e que é impossível conversar daquela forma, pois já estava velho e não conseguia mais lembrar o que tinha a dizer. A emoção maior surge quando o pai associa a condição de seu filho à sua quando diz mais ou menos assim: "eu também estou com a síndrome locked-in, estou aprisionado em meu apartamento, pois não consigo mais subir e descer as escadas".
Apesar de aprisionado em seu corpo, Jean-Do, assim chamado carinhosamente por familiares e amigos, voa longe, delicia-se com ostras em uma mesa farta acompanhado da mulher que o auxilia na escritura de seu livro. Além disso, ele lembra uma viagem que realizou a Lourdes com uma antiga namorada. Isto é, ele próprio descobre que a paralisia não lhe alcançou sua imaginação e sua memória.
Após dez dias de escrito o livro, Bauby falece a 9 de Março de 1997. Sua doença e sua morte são metaforizadas no filme com as geleiras desmontando e remontando-se, respectivamente. Um belo e bem feito trabalho, sem apelo a melancolia ou a choradeira. A emoção toca o espectador pela própria história de vida do autor e pela construção de cenas e diálogos.
A película, que recebeu prêmios no Festival de Cannes e no Globo de Ouro, nos permite ver que também somos escafandros e borboletas. Escafandros porque somos prisioneiros de nós mesmos, de nossos medos, de nosso passado, de nossas angústias. Borboletas porque todos temos nossos sonhos, nossas aspirações, nossas viagens, nossa imaginação e nossa memória. Mas sejamos mais borboleta que escafandro e apaixonados pela vida, assim como Bauby.
O Escafandro e a Borboleta
(Scaphandre et le Papillon, Le, 2007)
Direção: Julian Schnabel
Roteiro: Jean-Dominique Bauby (romance), Ronald Harwood (roteiro)
Gênero: Biografia/Drama
Origem: Estados Unidos/França
Elenco: Mathieu Amalric, Emmanuelle Seigner, Marie-Josée Croze, Max von Sydow, Isaach De Bankolé, Emma de Caunes
Duração: 112 minutos
Tipo: Longa
Site oficial: http://www.lescaphandre-lefilm.com/
segunda-feira, 7 de julho de 2008
Liberdade aos cotovelos
Aos 26 anos, descobri que colocar os cotovelos em uma mesa torna-me uma completa jeca e uma incapaz de progredir social e profissionalmente. Há quase uma semana, penso, reflito e sonho com a minha imagem de filha de paraibanos, com sotaque ao pronunciar certas palavras e expressões, com o meu jeito masculino de fumar, com a espontaneidade com que solto uma gargalhada, com a minha simplicidade no modo de pensar e de me vestir. E me vi um monstro!
Esse monstro em que fui transformada não se originou da minha cabecinha medíocre, mas da cabeça de um senhor experiente, amigo de autoridades, freqüentador de requintados restaurantes, leitor de mais de mil e quinhentas obras, que se relacionou com belas e grã-finas mulheres. No início, fiz graça e piada com minha forma de ser, provocava ao enfatizar este meu jeito, mas, um dia, em um sertão australiano, senti-me ofendida. Como tais questões podiam me diminuir a tal ponto de eu não poder ser querida da forma como sou?
A previsibilidade é a grande característica das pessoas. Desde o início, fugi de viver esta história porque sentia que pudesse sofrer com as diferenças mais à frente. Mas, bastante antes da meia-noite, virei abóbora. Uma abóbora que nem sequer antes foi princesa, mas que os olhos e o coração do lord esperavam que ela assim se tornasse. No entanto, não houve pretensão ou fingimento. Ela quis, no mínimo, que a vida lhe surpreendesse, mas os seus medos coincidiram com a realidade. E ele com o seu “instinto de apequenar os homens”... (Nietzsche novamente)
Ser uma boa pessoa; enxergar além das diferenças; viver uma linda história sem preconceitos, arquétipos ou estereótipos... Esqueça! Nada disso existe. Não adianta ir contra os ditos populares ou com os cuidados de mãe... Nada existe à toa. A vida resume-se muito em “cada macaco na sua árvore”. Você pode subir, descer ou permanecer, mas não se desloque para outra árvore, pois você será expulso, não tenha dúvida. A plebéia “mar nunca” sairá do seu arbustinho. A Genealogia da moral ajudar-me-á a compreender mais isso tudo...
“Descobri então que todas elas remetem à mesma transformação conceitual – que, em toda parte, ‘nobre’, ‘aristocrático’, no sentido social, é o conceito básico a partir do qual necessariamente se desenvolveu ‘bom’, no sentido de ‘espiritualmente nobre’, ‘aristocrático’, de ‘espiritualmente bem-nascido’, ‘espiritualmente privilegiado’: um desenvolvimento que sempre corre paralelo àquele outro que faz ‘plebeu’, ‘comum’, ‘baixo’ transmutar-se finalmente em ‘ruim’” (NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral: uma polêmica, p.21).
Obrigada, Nietzsche!
Brasília, 18 de janeiro de 2008.
domingo, 6 de julho de 2008
Insônia de sóis e luas
Durmo para os dias passarem
Acredito para o pessimismo não inundar
O que desacredito que não seja
A vida é lenta para ser curta
É efêmera para ser longa
Estou cansada de habitar a cidade visível
Enquanto fujo para a invisibilidade dos meus sonhos
Ah! Se a fantasia viesse para a realidade...
E a vida fosse um prazer inócuo...
sábado, 5 de julho de 2008
SOS
Um momento próximo
No próximo, só
Nasce-se só
Vive-se só
Morre-se só
Há que saber viver-se só
Para não perder-se em não ser só
O que se é a sós
sexta-feira, 4 de julho de 2008
“Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”
As pessoas são mais belas
Os sonhos são mais alegres
As palavras são mais doces
Minha cama é um refúgio delicioso,
não mais torturante
Volto minha atenção para a novidade
Não me prendo mais ao passado como ontem
Era como se algo me amarrasse por dentro
E eu tivesse conseguido afrouxar as amarras
Sinto-me mais leve
O coração está em paz
Sigo em frente a minha estrada
Sem arrependimentos
Sem rancor
Sofrimento, crescimento
Palavras, recordação sem dor
Amor de ontem, doce lembrança
Olhar para mim e ver que sou capaz
De amar, sofrer e ainda mais amar
Um hematoma se esconde em meu corpo
Sem mágoa, sem lágrima
Com alegria, com doçura
E com a certeza de que a vida vale a pena
Com seus percalços e encalços
Pois quem é verdadeiro não teme o amanhã
Não se desfaz de máscaras
E se regozija das surpresas que surgem