
Oito artistas no palco mantêm a platéia atenta durante 80 minutos e arrancam risadas surpreendentes em um diálogo trágico e cômico. Como em uma conferência, cinco deles apresentam-se sentados em uma mesa com seus respectivos copos d’água e plaquetas com seus nomes. No início, permanecem calados por desconhecerem os motivos de estarem ali.
De origens diferentes e idiomas estranhos, cada um discorre sobre as especificidades que conhecem. Para decodificar a língua em que falam, há uma tradutora que, ao final, torna-se dispensável, pois, apesar das diferenças, todos se entendem. Nascimento e morte ocorrem no palco como para enfatizar o medo que nos assombra e de que fala Drumond em seus versos.
É difícil descrever o espetáculo, e nem conseguiria. É preciso assistir para sorrir, pensar e aplaudir. É uma pena olhar para trás e ver cadeiras vazias, mas quem teve o prazer de estar na sala Martins Penna do Teatro Nacional de Brasília do dia 26 ao dia 28 de agosto sabe o quanto valeu a pena. É aconselhável levar carderninho e caneta, pois como a amiga que me acompanhou, ela gostaria de ter registrado algumas fantásticas expressões. Um exemplo: “brindar” na língua de um dos conferencistas é “estalar de vidros”. A criatividade é admirável.
A peça integra o Cena Contemporânea 2008 – Festival Internacional de Teatro de Brasília. Saiba mais no site
Grupo Espanca!
Formado em 2004,
Congresso Internacional do medo
(Carlos Drumond de Andrade)
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que estereliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
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