quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Chão

Entre momentos de choro insano, aprende-se a chorar em silêncio. Aprende-se a chorar sem lágrimas, aprende-se a chorar sorrindo. Os olhos calam-se diante de sua invisibilidade, de sua inutilidade diante de um mundo em ascensão. Esparrama-se no chão inúmeras vezes. E é ele que te apara para que não vá mais fundo. O chão te é íntimo, mas do chão quer distância. Mas ele continua a te receber. Apesar dos pés feridos e que sangram, eles precisam seguir, ainda que as pernas falhem. Elas bambeiam, mas ordenam suas bases machucadas. Não se sabe se as feridas vieram das pernas ou da intimidade com o chão. Ela se consola com a amizade com o chão e se revolta. Pede que o chão seja apenas lembrança. Ele insiste em ser presente. Mas, um dia, ele há de ser apenas impulso para passos ascendentes e se acenarão em mútuo agradecimento.