quinta-feira, 4 de junho de 2009

Não esperar...

Páginas me fazem falta. Por duas semanas, abstive-me delas para desempenhar compromissos. O intervalo também me permitiu viajar ludicamente a partir de premissas reais. Mas esses quinze dias trouxeram de volta a insônia, as caraminholas. Não que escritos não façam isso, mas eles me deixam sair de mim por alguns instantes, são minhas férias necessárias e diárias. Retorno na noite anterior. Um livro enfadonho pôs-me a dormir tranquilamente. Na manhã, pego a revista emprestada com a sugestão de uma entrevista com o filósofo André Comte-Sponville. Encontrei nele um “salvador”. Chamo assim os momentos, pessoas, palavras, quando, com quem, onde encontro coincidências, sejam elas manias, pensamentos, “teorias”, “viagens”. Segue um trecho interessante, não totalmente coincidente, mas com razões semelhantes às que pensei muitos anos atrás para defender-me... de mim mesma...

“Você conhece a fórmula de Gramsci: “Pessimismo da inteligência, otimismo da vontade”. Pessimismo da inteligência, porque é preciso ver as coisas como elas são, sobretudo quando são inquietantes, e mesmo vê-las de maneira um pouco mais sombria do que realmente são: assim seremos mais vigilantes. Mas otimismo da vontade, porque depende de nós mudá-las, ao menos em parte, e evitar o pior. Isso me faz pensar naquela outra fórmula do estóico Sêneca: “Quando você tiver desaprendido a esperar [ou seja, desejar o que não depende de você], eu o ensinarei a querer” [ou seja, a desejar o que depende de você e, portanto, a agir]. Não se trata de ser otimista ou pessimista. Trata-se de ser lúcido e corajoso. Não se trata de esperar ou temer; trata-se de querer, de prever e de agir.
Dito isso, serei menos exigente que Sêneca: não peço que você não espere nada, pois isso está, sem dúvida, fora de nosso alcance. Eu diria antes: não se contente em esperar, ou seja, em desejar aquilo que não depende de você; aprenda a desejar o que existe e o que depende de você, ou seja, a amar e a agir. É a única sabedoria que não mente: uma sabedoria da lucidez, do amor e da ação”.

Um comentário:

Tatiana Coêlho disse...

Tava com saudade de passar por aqui...
A saudade daqui só não é maior que a saudade da autora!!!

Beijosss