sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Trilogia suja de Ana

Sentei na sarjeta. Senti um odor de merda, diria Gutiérrez. O cheiro do ralo vinha de perto, do meu subterrâneo. Há tempos escondia a sujeira, mas ela veio à tona. Tantas pequenas coisas se somaram que a tampa não suportou a pressão e foi merda pra todo lado. Exijo e sou exigida. Descobri em aulas de Direito Penal que não se é criminoso se agente e paciente recaem sobre a mesma pessoa. Mas talvez eu seja a criminosa de mim mesma. Disfarcei as minhas diferenças e fui pega em flagrante e acusada de mim mesma por mim mesma.

E o subsolo é profundo, mergulho e não encontro o ralo que pudesse mandar tanta sujeira embora. Não sei destampá-lo. A sujeira vai comigo aonde eu for. Às vezes, escondida, às vezes, descoberta. E ninguém gosta de cheiro de merda, nem da própria. Mas deixo ele me incomodar como um cachorro que precisa sentir o cheiro pra nunca mais cagar no lugar errado. Vou tampar mais uma vez e, mais uma vez, esquecer que sou também a minha sujeira. E Pedro Juan vai me contando da sua própria, da sua ilha, de mi Cuba querida...

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