quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Com licença, mundo.

É triste descobrir que certas coisas acontecem em nosso corpo. E não gosto do verbo acontecer, mas é exatamente essa a palavra. Lembro-me de um dos primeiros chefes que tive em minha vida. Ele me contaminou com a birra ao verbo. Acontecer, para ele, era quase como um aparecimento de uma entidade. E é isso que, às vezes, acontece com o nosso corpo. Há coisas que fazemos que propiciam o surgimento ou que corremos o risco e elas aparecem. Mas outras não. Há aquelas que simplesmente vêm para nos deixar tristes. Existe controle. Não há regresso. Existe o conformismo. Não há cura. Elas começam pequenas, mas podem se espalhar. Elas começam com sintomas e podem se tornar graves. E se só mexesse internamente, talvez fosse mais fácil. Mas não, elas são exibidas, têm que se mostrar para nós e para os outros. E eu cada vez mais gostaria de entrar para dentro de mim mesma, esconder minhas marcas, meus aumentos, minhas feiúras. É como se a vida quisesse piorar aquilo que justamente nos incomodou a vida inteira. Como costumo dizer, nunca estrago o que não gosto, é sempre o que mais gosto. E assim é no corpo. As coisas aparecem como que por provocação, nos lugares que mais prezamos ou naqueles que toda a vida mereceram mais atenção porque já tinham alguns mínimos problemas. Disseram-me que é a idade. Respondi, no auge do meu humor, que só se eu tiver envelhecido 20 anos em quatro meses. Não existe diálogo. É apenas um silêncio solitário e triste. Preciso de tempo para aceitar e me conformar com um novo formato de mim mesma. Ainda não consigo. Tenho esperanças, mas sei que são esperanças com grandes chances de frustração. Imagino tudo o que possa existir de mais grave, mais doloroso, mais difícil e mais feio no mundo. Mas hoje pedi licença ao mundo. Deixe-me com minha tristeza. Deixe-me com a música no volume mais alto para nem ouvir a mim mesma. Deixe-me com o pior de mim. Deixe-me esperar surgir o melhor de mim. Permita-me que eu corra e deixe pedaços de mim no caminho. Dê-me um tempo de egoísmo que já volto, mundo. Com licença.

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