quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Pequenas grandezas

Em um carnaval de rua, piso aquela água xexelenta próxima ao meio-fio. O homem que amava e de quem estava acompanhada desaparece, volta com uma garrafa de água mineral e lava meus pés e sapatos.

Em uma casa de amigos, com um vestido com fendas laterais, me cobria para que não vissem minhas lesões. O mesmo homem passa a mão em minha pele e diz que, se ele não se incomodava, eu não deveria me incomodar.

Em uma viagem de fim de semana e despedida no Rio de Janeiro, esse mesmo homem me surpreende mais uma vez. Na praia, perturbada com a minha pele, peço sua bermuda para entrar no mar. Vestido com uma cueca boxer preta por baixo, ele não hesita, e vou feliz dar um mergulho.

Um amigo que morou longe por cinco anos me mandava mensagens carinhosas como se adivinhasse os momentos difíceis por que eu passava. Um dia, enfim, decido visitá-lo e recebo a notícia de que ele voltaria na semana seguinte.

Trabalhando em outro estado por mais de três semanas sem vir a Brasília, volto para passar o aniversário com a família e os amigos. Marco cerveja e bar. Quando chego, surpresa com parabéns, bolo, balões, uma caixa recheada de mimos, além de abraços e risadas. Não é a primeira vez que a mesma amiga me “engana”.

Meus pais hoje revezam moradias em Brasília e na Paraíba. Distantes, mandam mensagens diárias para saber como estamos eu, minha irmã e os gatinhos. Meu pai ainda pergunta, frequentemente, se estou me alimentando bem devido à minha crise financeira.

Antes de viajar, minha mãe presenteia Madalena com um saquinho repleto de liguinhas (elásticos de cabelo). A “bobagem” é o melhor brinquedo desde que minha filhota é um bebê.

Minha irmã vem à casa dos meus pais uma ou duas vezes por semana para almoçar comigo e, claro, comer minha comida. Ela “reclama” que toda vez que vem “come muito”.

Amigos tentam me ajudar e mandam mensagens com vagas de emprego, seja aqui (em Brasília) ou onde saibam que existe uma oportunidade, inclusive um amigo que mora no Norte do país. Este, inclusive, sempre que pode e volta à cidade, tenta me encontrar e manda mensagem de saudades.

Para encontrar a mim e a um amigo, uma amiga de infância vegana faz um almoço para que possamos nos encontrar, conversar, saber das vidas de cada um e matarmos as saudades.

Madalena dorme todos os dias comigo. Acho que é um dos poucos gatos que não acordam os outros durante a noite. Ela já tem seu ladinho na cama, mas, às vezes, me faz dormir torta. Ela é meu bom dia e boa noite, me acompanha na cozinha, no banho e aonde quer que eu vá pela casa. E adora se exibir para visitas.

Uma amiga me convida para sua casa e para bares. Conheço sua família, sou convidada ao aniversário de sua mãe, sua filha me diz “eu te amo” e seu pai diz que precisam me arrumar um emprego depois de ler um texto meu.

Raros amigos mandam mensagens “como você está?” e, com esses, sei que não preciso responder o automático “tudo bem”.

Publicado no blog Quadra Zero

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