terça-feira, 16 de agosto de 2016

Sapatão ou rapariga?

Com os anos, passo a analisar várias questões da vida e as diversas situações por que passamos. E, muitas vezes, em conversas com amigas e confissões de colegas, descobrimos as dificuldades mais ínfimas com que as mulheres se confrontam. Não vou discorrer sobre as mais adversas. Falarei das pequenas, dos julgamentos, de rótulos.

Uma que eu particularmente vivi foi ao trabalhar por um curto período em uma cidade do Nordeste. Não no estado de que considero filha (meus pais são paraibanos), mas em um a que apenas havia ido anteriormente como turista. Em uma noite com colegas de trabalho, um me revela que a minha fama era a de que eu era sapatão.

Minha reação foi rir. Depois, passei a pensar. Como éramos muito brincalhões, um ou outro dava a entender, às vezes, claramente, que queria um beijo ou dormir comigo. De minha parte, nunca passou de brincadeira. Mas, como em todo o período em que lá estive, nunca passou disso, levei fama de sapatão. Foi o que pude concluir.

Em uma outra conversa com outro colega, ele confirmou o meu pensamento. E acrescentou que, caso eu tivesse aceitado a “cantada”, meu rótulo seria outro: rapariga. Engraçado não? E todos os que me fizeram o dito “convite” são ou eram homens casados. Mais uma vez, engraçado não? O máximo de adjetivos que eles ganham são garanhões, comedores ou bem-sucedidos no desastre de amar.

De volta, em minha cidade, em Brasília, em um bar supostamente moderno, eu e uma amiga conversávamos e nos divertíamos. Até que, em determinado momento, um grupo de homens se apresenta. Logo de início, recebo a pergunta: “Vocês são namoradas?”. Novamente, rio. Eles se justificam porque estávamos em um local em que se paquera e que, até aquele momento, não aceitamos a cantada de nenhum homem ou paqueramos nenhum.

Em outra noite, em outro bar, de outro bairro, mal sento à mesa com outra amiga, e um homem já se convida para sentar, pergunta meu nome e meu telefone. Apenas respondo que havia acabado de chegar e que queria somente conversar com minha amiga. Precisei ser enfática diante da insistência.

Diante desses pequenos acontecimentos, não sei direito o que pensar do sexo oposto. Me parece que os homens acham as mulheres solteiras mulheres desesperadas, à procura, a todo instante e em qualquer lugar, por alguém que lhes aplaque a carência que eles imaginam que passamos.

Não tenho que provar que sou hétero. Não estou disponível em uma prateleira com anúncio. Não sou um pedaço de carne no açougue que saciará a fome masculina, em vez da minha. Não sou santa, tampouco pudica, aliás, estou longe disso. Mas meu desejo e minha fome são muito maiores que qualquer aventura em uma noite qualquer com qualquer homem.

Publicado no blog Quadra Zero

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