sábado, 10 de setembro de 2016

Tudo igual

Receitaram-me óculos após não enxergar o buraco de uma agulha por onde eu deveria colocar uma linha para remendar não sei o que. Achei que, com isso, enxergaria melhor. Mas as coisas continuam demasiadamente iguais entre si.

Olho para o mundo com e sem óculos e tudo permanece semelhante. Não percebo as grandes ou sutis diferenças entre árvores, carros, ruas, pessoas, cheiros, sabores, dias. É como se todos os instantes fossem repetidos ou tudo neles se repetisse.

Os olhares são sempre os mesmos. As conversas são sempre as mesmas. Nada difere de nada. Não há digitais. Só há dia e noite, e cada um é sempre igual após 24 horas. Só os livros parecem me contar histórias diferentes.

Apenas algumas pessoas também vejo diferentes. E a elas me agarro como salvação. Sobre todo o resto, parece não haver óculos que o diferencie. É tudo tão igual que parece o mesmo sonho a recomeçar, assim como eu mesma me torno repetitiva.

Até os erros são os mesmos. Os pensamentos dão e dão voltas. Me perco nos caminhos, pois me levam sempre ao mesmo lugar. Janelas e portas, abertas ou fechadas, não mudam. As equações dão sempre o mesmo resultado.

Os pássaros entoam a mesma cantoria todo os dias. Todos os dias, nos mesmos horários, são os mesmos carros a chegar. É o mesmo silêncio dia após dia. Sou igual dia após dia. O espelho está sempre no mesmo lugar a mostrar tudo igual.

Quando criança, tinha a impressão que vivia sempre um sonho e que, um dia, acordaria e viveria realmente. Quiçá, seja isso. Talvez eu esteja em um sono eterno e acordarei para ver árvores, carros, ruas, pessoas, cheiros, sabores, dias distintos.

Publicado no blog Quadra Zero

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