quinta-feira, 23 de abril de 2009

Um degrauzinho acima

Há tempos algo não me encanta profundamente. Algo, digo, em termos culturais. Não gostei nenhum pouco de A história do pranto, de Alan Pauls. Talvez tivesse me encantado pela beleza do autor em fotografias de resenhas de jornal. Me perdia no texto, não via importância nas palavras, mas não me permitia largar o livro sem ler até o fim.

Então, finalmente, decido ler um autor que sempre quis ler: Gabriel García Márquez. Não gastaria dinheiro para comprar porque este era uma das coisas que uma pessoa em mudança diria que “daria fim”. “Não, não jogue fora, me dê”. Comecei a ler Memórias de minhas putas tristes e me encantei por não me perder na trama e com a “candura” da história.

Pagamento de IPVA e outros gastos com o “meu neguinho” (apelido carinhoso dado a uma das raras conquistas em 27 anos) me impedem de passar o cartão na Livraria Cultura. Então, um livro, presente na estante do corredor, que sempre me apavorou pelo tamanho e pelo título esteve em minhas mãos por longo período. Cem anos de solidão me divertiu no início e me transtornou em algumas partes.

Depois, decido ler mais um autor dos tempos atuais. Não sei porque, mas os livros que sempre figuravam em minhas leituras eram os considerados clássicos, autores consagrados no mundo e na história da literatura. Decido, então, por influência de uma doce, querida, admirada amiga e devoradora de livros, ler Milton Hatoum. Um autor que eu soube, pela primeira vez, por meio de uma tese analisada em conjunto com o “meu escritor”, Samuel Rawet.

Li matérias a respeito dele e assisti a entrevistas com o manauense, e me encantei. Figurinha adorável. Atraída por títulos, vou à Livraria e escolho Dois irmãos. Não, não me apeteceu os nomes Cinzas do norte ou Relato de um certo Oriente. Dois irmãos pulou em minha frente perante os outros da estante. Deliciosamente escrito, trama interessante. Interrompo para buscar uma certa ajuda em outro livro.

Concomitantemente, tento ir a shows. Digo “tento” porque me obrigo a ser Buendía pelo menos uma vez por semana, mais do que isso é penitência. Entrevistar o João Cavalcanti, filho do “meu” Lenine, e ver o show do Casuarina foi gostoso, mas me faltava o ânimo verdadeiro dos pés irrequietos. Falar com Chico Pinheiro ao telefone e vê-lo depois no palco do Clube do Choro foi uma sensação indescritível, pequena para outros, mas inesquecível pelo meu início.

Com Chico, tive a sensação primeira de não conhecer, ler apressadamente algo sobre, entrevistá-lo por duas vezes interrompidos pelas falhas na transmissão de voz por estar em estúdio, comparecer ao show e... “Você já falou com o Chico, Ana?”, pergunta Marco Guedes, assessor do Clube. “Ah, Marco, não, mas...”. “Chico, esta é a Ana Rita, que falou com você esta semana”. Um misto de vergonha, curiosidade, assombro, admiração, degrau acima.

Iniciação a “cara-dura”: “Oi, aqui é Ana Rita. Eu queria ver Nina Becker...” “Ok, Ana, o seu nome está na lista”. Não conhecia a cantora, a não ser pela referência à Orquestra Imperial. Em um dia atribulado por trabalho e curso, decido incorporar o sobrenome Buendía e sigo longe para assistir à cantora. Saí do Espaço sem saber que opinião ter sobre ela. Gostei da voz, mas não gostei de várias coisas. Muito barulho, brincadeiras insossas no palco, letras bobas, para não dizer pior. Mmmmmmmmmm... Não, definitivamente não gostei de Nina. Uma pena. Mas conhecer tem sido o grande combustível.

Me arrependi de não ter visto Fabiana Cozza, com quem também pude falar. Apaixonada por samba, faço download de um disco seu e simplesmente me apaixono. Não sai do aparelho de som há algumas semanas. Confesso que saber de Canto de Ossanha me fez favorável à primeira vista. E, além de tudo, com dois cubanos fazendo a releitura de uma das grandes paixões de minha vida... Cuba e Vinicius. Um sonho. Ainda prefiro a versão do poetinha-poetão, mas Cozza me surpreendeu...

Me arrependo de antemão por não poder ver Teresa Cristina. Apesar de oscilar entre admiração e “não sei do que esse homem fala”, Caetano é um dos artistas que não quero morrer sem ver. E seu show coincide de ser no mesmo dia do de Teresa. Meses antes garanto meu ingresso para assisti-lo de longe, longe... Mas morrerei tranquila por tê-lo visto. rs Mas ainda faltam tantos... Também quero presenciar o show de outro Chico, o Chico Buarque, mas, claro, sem entrevistar. Com este, eu não teria voz, pernas, neurônios, condição alguma.

Mais uma “cara-dura”. “Alô! Oi,... Será que tem como eu poder ver o espetáculo com a Ana Botafogo?” “Claro, mas não vai poder ser quinta-feira, é dia de muitos convidados. Pode ser sábado”. Então, no fim de semana, terei o imenso prazer de ver o “virtuosismo nos pés e nas teclas”. Além de ir a shows, preciso ler, ler, ler. Num dia de semana qualquer, a mesma querida amiga e devoradora de livros me entrega um presente. “Por que isso, ‘meiguinha’?” “Porque não quero só presentear em datas especiais”. Ela só não sabe o tanto que aquilo me tocou. Exigi dedicatória. Rs E, mais uma vez, ela não sabe como me tocou. Três livros ao meu lado, tantos milhares na vontade.

E tem sido assim. Descobertas maravilhosas neste 2009 que proporcionou com que eu atuasse na área que sempre desejei. Poder conversar com artistas, conhecer a cada instante, descobrir novos mundos, voltar a escrever, poder ver meu nome impresso no jornal que sempre me amedrontou. Perdi ali, ganhei aqui. E quem sabe, compareço um dia para o que fui convidada ontem ao telefone por Serjão Loroza: “Você vai lá, Rita? Pô, vai lá, tomar uma cervejinha comigo no camarim!” rs

4 comentários:

marisinha c. disse...

Buendía sempre!!! Um dia irei pra Macondo..

Prima.. Caetano é massa. Um dia também quero ver Chico, mas de todos, quem eu sonho ver 'ao vivo' é o ex-Ministro. Minha mãe conta que o viu num show quase que único nessa minha (nossa) terra. Em pleno Theatro Santa Rosa, cantando Expresso 2222. Fico imaginando o Theatro centenário recebendo a vanguarda da música brasileira nos idos da década de 70... Será que seremos capazes de presenciar (testemunhar) mais vanguardas? O mundo anda tão mais ou menos (com leve tendência ao menos).

Bjs.. e manda um bj pro Loroza.. :)

Jasão disse...

Eu vi o Chico, no Palácio das Artes, em BH, na turnê do Carioca...

só pra tirar uma ondinha... hehehe

beijo

p.s.: trabalhar na área cultural é maravilhoso, não é?

Ana Rita Gondim disse...

Eu espero que sim, Marisinha... E não acho q o mundo anda tão menos assim, pelo menos, culturalmente. É só questão de garimpar. No restante todo, "prefiro não comentar"...
Um "ondão", hein, Jason?!! rs Área cultural é maravilhosa, deliciosa. Como disse hoje, não quero saber de fazer outra coisa... rs A não ser por $$$... Dura (em ambos os sentidos) realidade.

Anônimo disse...

Quantas descobertas! Fico muito feliz por você. E que venham mais shows, mais teatro, mais dança, mais filmes mais livros!
Espero que goste do presente :)
Beijos, querida!!
Flavinha