segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Cartola: música e poesia para a vida

Perdi de ver Cartola – Música para os olhos, de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda, no cinema. Posterguei o filme até que encontrasse o dia perfeito, mas esqueci-me de que as películas brasileiras permanecem em circuito muitíssimo menos tempo. Procurei DVD, mas tampouco o encontrava. Um dia, finalmente, vejo a capa com sua foto preto e branca, de perfil e cabeça baixa.

Não perguntei o preço. Alguns motivos me impediram de vê-lo logo em seguida. Mas, em um domingo em que o Brasil parou para assistir a Felipe Massa correr em Interlagos ou para homenagear pessoas queridas no Dia de Finados, eu parei para conhecer mais do maior nome do samba. Um amor antigo que desconheço quando exatamente começou.

Angenor de Oliveira, conhecido como Cartola, é um dos artistas que ocupam o topo da minha pirâmide alimentar; é minha fonte de energia, alegria, admiração, respeito, veneração. Ouvir Cartola me transporta a outro mundo, é fechar os ouvidos para os ruídos de fora. É acreditar que se é grande sem ter (fisicamente, materialmente) nada. É a voz que dá um recado, é a melodia que abre um sorriso, é a letra que faz pensar, é a música da dor e do sonho.

É uma pena que o filme não signifique tanto ou que não revele com mais precisão a grandeza desse poeta que fundou a Estação Primeira da Mangueira. Mas vê-lo com Zica, com seu pai, com seu violão, com seus óculos grandes a esconder os olhos de um rosto delgado, são imagens preciosas para quem somente conhecia suas feições por fotos.

Falar de Cartola é não saber falar dele; é recomendar que se conheça, que se ouça, apenas. Aquele que não gosta, eu prefiro não saber.

“Ainda é cedo amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Preste atenção querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem amor
Preste atenção o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões a pó

Preste atenção querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés

(O mundo é um moinho, Cartola)

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