segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Ana Rita

Que agradável surpresa a que encontrei nesta segunda-feira! Sempre brinquei de padecer de nunca meu nome haver sido cantado, escrito, declamado, declarado, em músicas ou livros. Encontrava-os separados, jamais unidos.

Hoje, ao receber o link de uma interessantíssima revista eletrônica, deparo-me com o conto Ana Rita, do poeta angolano João Tala.

Uma apreensão me fez guardá-lo para ler sozinha a história. Senti um alívio por gostar da escrita, apesar de não apreciar o desenvolver dos acontecimentos e o fim nada conto-de-fadas ou, no mínimo, esperançoso. Ainda bem que somos Ana Rita apenas no nome, no apelido, na paixão e no sorriso.

Pelo menos agora posso dizer: “Existe, sim, uma história com meu nome”. E que, ao contrário da Ana Rita contada, minhas opções não sejam sempre agravadas por azar e, sim, que meus olhos continuem sorridentes como os dela e que, desculpe João Tala, jamais seja tarde para recomeçar.

Fragmentos de Ana Rita

“– Ana Rita, quanto tempo já nos comeram – disse-lhe ansioso de ouvir de novo o timbre agudo da sua garganta; tinha voz receosa, talvez cautelosa. E sofrimento.
Respondeu-me finalmente, agora fazendo sobressaltar a voz.
– Tem muitos anos, nos conhecemos. Aonde estavas durante essa vida em que nos puseram fogo? – disse, a sua linguagem é o retrato da guerra.
...
Então. Restou aqui fora aquele sorriso que nem velhice consegue riscar, num rosto que perambulava aí, no susto das épocas que degradaram nossos semblantes – como se vê, pessoas ainda assustadas, esquinadas na espera de qualquer coisa que vem aí, ninguém sabe o quê, mas qualquer raiva de novo a deflagrar de nós próprios. Aliás, sempre fomos assim, não tem conversa.
...
Contaram-me tudo o que aconteceu com esse amor desaparecido, a Ana Rita.
...
– Eu me desgastei. Onde tu estavas enquanto eu aqui me desgastava de todas as dores?
– Ana Rita, ouça-me: nunca um homem pode ser tanto. Ninguém desgasta à toa mulher que seja.
– Nunca mais vou sentir a dor de uma voz. – Ironizou, era uma crítica à minha ausentada vida enquanto ela procurava...
– Eu procurei o teu nome... vai estar sempre perdido como ninguém. – Finalizou desesperançada. Afinal nem conhecia meu nome...”

Um comentário:

Anônimo disse...

pois eu sempre achei o seu nome muito feliz, uma escolha sonora perfeita para se tornar personagem de romance, conto, poema, o que for. eu mesmo, se você permitir, um dia vou nomear ana rita uma personagem de romance, se por ventura continuar metido a escrever romances, haha.
beijo.
paniago