terça-feira, 14 de outubro de 2008

Efeitos colaterais da literatura

Em uma mesa de bar, ouvi que se adoraria ler Dostoiévski, mas que foi aconselhada a não fazê-lo. Não era um papo cabeça regado a copos de cerveja. Era um papo entremeado de inúmeras risadas e intimidades que se começa a falar entre amigos e após certo grau etílico. A interrupção ocorreu quando Faraó, o famoso vendedor independente de livros em bares de Brasília, chegou com a sua pilha de obras.

Antes do escritor russo, a primeira interrupção foi a conclusão de alguns: “Ele (Faraó) sempre traz Nietzsche em cima”. Ri porque não havia atentado para o fato mesmo vendo a coleção de livros toda as vezes que sento em um bar. Não foram e não são raras as oportunidades que o bolinho chega ao lado.

Voltando a Dostoiévski, com toda a indiscrição e todo o susto, perguntei-lhe por que a haviam dito para não lê-lo. “Ele me disse que dá depressão”, confessou. Não me contive, ri e recomendei-lhe justamente o contrário. Para encorpar minha pífia opinião, disse que procurasse qualquer lista das melhores obras já escritas em todo o mundo. Certamente, Crime e castigo está em todas.

Crime e castigo foi o segundo livro que li “obrigada” e que me apaixonei. Depois dele, li Memórias do subsolo, Noites brancas; e O idiota aguarda pacientemente a sua vez. Como alguém pudera dizer que Dostoiévski deprime seus leitores? Deduzi que há deprimidos demais no mundo. No entanto, também inferi algo perigoso sobre os homens. Associei os seres do sexo masculino aos governos de países atrasados como o Brasil. E a conclusão a que cheguei é a de que homens/governantes apreciam mulheres/eleitores dóceis, sem muitas perguntas, sem muita leitura, não somente para não questioná-los, mas para também não haver riscos, competição, no caso dos homens.

O perigo, acredito, que possa advir com demasiada leitura é o ceticismo. Leitores contumazes tendem a não acreditar em nada e, portanto, a duvidar de tudo. Essa foi outra dedução que acompanhada de uma amiga tivemos nos intervalos que fazemos durante o expediente. Mas esta inferência foi particularmente relativa a Nietzsche. Então, cuidado, leitores, vocês podem se tornar seres irreversivelmente incrédulos e, segundo outra opinião, seres deprimidos irrevogáveis.

Um comentário:

Anônimo disse...

Acho que cheguei às mesmas conclusões.

E, mesmo que fosse verdade a coisa da depressão e do incrédulo, continuaria insistindo mil vezes no erro de ler e ler e ler.

Essa nossa atividade, vc sabe tão bem quanto eu, não acaba nunca. E já tem aquela fila de espera enooorme nos aguardando!

Bjo

P.S: Não conheço o cara dos livros nos bares. Talvez porque eu tenha parado de frequentar bares. droga.
os bares promovem a cultura!