quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Memórias de velhos tristes

A leitura de Memória de minhas putas tristes é deliciosa. Havia imaginado García Márquez complexo, mas os olhos passam por suas palavras sem precisar de retorno. Não me envergonho de minha ignorância porque contra ela há o prazer ímpar de viver várias vidas, conhecer palavras, descobrir mundos inesgotáveis.

Vi no "sábio triste" de García Márquez o Homem comum de Roth. E, por um momento, alegrei-me por não conhecê-los anos à frente. Em alguns instantes, inquietei-me com sua frustração, estagnação; ausência de vida, de amor; preferência pela ilusão à realidade. Sem desistir, ele apazigua, e, no fim, ele acalenta com sua busca.

Numa coincidência das duas leituras, enxerga-se a contemporaneidade: "O sexo é o consolo que a gente tem quando o amor não nos alcança". E ao encontrar uma ex-companheira de cama, o "sábio triste" ouve de Casilda Armenta: "não vá morrer sem experimentar a maravilha de trepar com amor".

Tantos anos, ou melhor, tantas décadas, como conta a idade o personagem, servem também para acalmar sonhadores e os que têm "joie de vivre" como norte. Mas mesmo com muitas alegrias a vir por um século, assim como ele, "não trocaria por nada neste mundo as delícias do meu desassossego".

E que venham Cem anos de solidão.

2 comentários:

Anônimo disse...

Belo post, Ana! Deu até vontade de ler mais do GGM... só li Cem anos de solidão.

Agora, tou lendo o Gênesis, da Bíblia, e tou lendo também a correspondência de Hannah Arendt com Martin Heidegger... como é bom descansar da academia e ler o que dá na telha!

um bjO

;-)

Anônimo disse...

Ou seriam Cem anos de sofreguidão? Sexo sem amor é tesão, Amor sem sexo... Sei não...