quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Um brasileiro em Berlim

No que se prenuncia início da minha morte semanal, recebo de volta meu Roth e tenho como empréstimo um livro de crônicas de João Ubaldo Ribeiro. Eu e uma das bibliotecas com quem trabalho conversamos geralmente sobre hábitos literários, entre outros assuntos, e uma vez confessei que nunca havia lido esse baiano de voz grave que mal se entende o que fala numa entrevista televisiva.

A fim de descobrir outros mundos, imponho-me um livro de cada autor, pelo menos intercalado. E minha curiosidade sobre Ubaldo aumentou ao ler uma matéria em que falava de seu novo livro e ao concordar com ele sobre os “problemas” da reforma ortográfica.

Então, aceitei o empréstimo, um tanto a contragosto porque gosto de ter os livros que leio, para sublinhar os trechos que me apetecem ou mesmo voltar um dia para reler algo (e eu volto mesmo). E para não embarcar no tédio invariável da segunda-feira, de uma semana que saberei longa devido ao plantão, preparo-me com travesseiros para o deleite inaugural.

Ubaldo é a simplicidade das palavras, é a comicidade em atos banais, é atinar para o “amanhã” brasileiro, é leve e divertido, é uma deliciosa indicação para sobreviver aos dias em que tudo parece meio cinza. Um brasileiro em Berlim faz-nos lembrar como é bom ser brasileiro, como é bom sermos alegres e solidários, como sabemos rir de nós mesmos, como é bom ser Brasil mesmo no primeiro mundo.

Obrigada pela salvação, Ubaldo!

“No Brasil, muitas vezes me queixo de que as pessoas falam alto demais, se olham, pegam, esfregam, abraçam e beijam demais. Já aqui, sinto uma espécie de privação sensorial. Penso em Montaigne, que, se não me engano, escreveu que o casamento é como uma gaiola: o passarinho que está dentro quer sair, o que está fora quer entrar. Acho que isso pode estender-se a tudo na vida, porque hoje, particularmente, eu gostaria, de ter voltado para casa com a sensação de que alguém na rua me viu, e fiquei com saudades de casa”.
(Pequenos choques – quatro anotações de um visitante distraído)

5 comentários:

Aderaldo Luciano disse...

Ô, Donana, emprestei um livro a um amigo. Retornou-me todo sublinhado, anotações nas margens, exclamações, interrogações. Fiquei pau-da-vida. Não comentei nada. Recoloquei-o na estante e nunca mais abri. O livro deixou de ser meu, as anotações destruíram meu carinho. Não costumo anotar enquanto leio. Mas hoje, depois que esse amigo partiu para a Alemanha, as suas anotações são a coisa mais presente que tenho dele e agradeço por tantas marcas, tantas tatuagens no corpo físico de sua literatura. Abraço!

Ana Rita Gondim disse...

Que bela presença! Mas friso que só faço isso nos meuusss livros, jamais nos dos outros (eles sempre voltam limpos aos donos)! Não gosto de dividir minhas tatuagens. rs E obrigada pelo "Donana", Aderaldo! Me gusta mucho! :-)

Anônimo disse...

ô Rita, coisa boa que você gostou da indicação. E da próxima vez que alguém me fizer a pergunta existencial que nunca caduca, a boa e velha "Você é o quê?", terei o prazer de responder usando a sua descrição: "Sou uma biblioteca".
Troquemos mais 'figurinhas'.
Um beijos (detalhe, eu tô no trabalho, a uns 4 metros de você)

Anônimo disse...

Ps: eu também tenho um blog. Clica aqui no meu nome de novo.

Anônimo disse...

Eu gosto muito de ler as aventuras do Joao Ubaldo, conheci as suas crônicas nas minhas aulas de português na faculdade. Hoje tenho que fazer uma traduçao duma delas para o galego e, para me informar um bocado, procurei o título no Google e achei este blog e gostei mesmo de ler :)
Abraços!