segunda-feira, 7 de julho de 2008

Liberdade aos cotovelos

“Tira o cotovelo da mesa!” Esta coisa que pai e mãe nos dizem quando somos pequenos é mais séria do que eu pensava. Eu só não imaginava que isso nos medisse entre bons e ruins, entre nobres e plebeus, para usar um pensamento de Nietzsche. Aprendi várias regras de como se portar à mesa; como não falar de boca cheia (nem tanto); a diferenciar os talheres conforme os pratos assim como distinguir os copos conforme a bebida; entre outros modos que nos façam parecer uma pessoa digna de sentar-se junto a outras. Mas os cotovelos...

Aos 26 anos, descobri que colocar os cotovelos em uma mesa torna-me uma completa jeca e uma incapaz de progredir social e profissionalmente. Há quase uma semana, penso, reflito e sonho com a minha imagem de filha de paraibanos, com sotaque ao pronunciar certas palavras e expressões, com o meu jeito masculino de fumar, com a espontaneidade com que solto uma gargalhada, com a minha simplicidade no modo de pensar e de me vestir. E me vi um monstro!

Esse monstro em que fui transformada não se originou da minha cabecinha medíocre, mas da cabeça de um senhor experiente, amigo de autoridades, freqüentador de requintados restaurantes, leitor de mais de mil e quinhentas obras, que se relacionou com belas e grã-finas mulheres. No início, fiz graça e piada com minha forma de ser, provocava ao enfatizar este meu jeito, mas, um dia, em um sertão australiano, senti-me ofendida. Como tais questões podiam me diminuir a tal ponto de eu não poder ser querida da forma como sou?

A previsibilidade é a grande característica das pessoas. Desde o início, fugi de viver esta história porque sentia que pudesse sofrer com as diferenças mais à frente. Mas, bastante antes da meia-noite, virei abóbora. Uma abóbora que nem sequer antes foi princesa, mas que os olhos e o coração do lord esperavam que ela assim se tornasse. No entanto, não houve pretensão ou fingimento. Ela quis, no mínimo, que a vida lhe surpreendesse, mas os seus medos coincidiram com a realidade. E ele com o seu “instinto de apequenar os homens”... (Nietzsche novamente)

Ser uma boa pessoa; enxergar além das diferenças; viver uma linda história sem preconceitos, arquétipos ou estereótipos... Esqueça! Nada disso existe. Não adianta ir contra os ditos populares ou com os cuidados de mãe... Nada existe à toa. A vida resume-se muito em “cada macaco na sua árvore”. Você pode subir, descer ou permanecer, mas não se desloque para outra árvore, pois você será expulso, não tenha dúvida. A plebéia “mar nunca” sairá do seu arbustinho. A Genealogia da moral ajudar-me-á a compreender mais isso tudo...

“Descobri então que todas elas remetem à mesma transformação conceitual – que, em toda parte, ‘nobre’, ‘aristocrático’, no sentido social, é o conceito básico a partir do qual necessariamente se desenvolveu ‘bom’, no sentido de ‘espiritualmente nobre’, ‘aristocrático’, de ‘espiritualmente bem-nascido’, ‘espiritualmente privilegiado’: um desenvolvimento que sempre corre paralelo àquele outro que faz ‘plebeu’, ‘comum’, ‘baixo’ transmutar-se finalmente em ‘ruim’” (NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral: uma polêmica, p.21).

Obrigada, Nietzsche!

Brasília, 18 de janeiro de 2008.

Um comentário:

Miguelito disse...

Nietzsche é legal! Lembre-se da ovelhas.... rs