quarta-feira, 30 de julho de 2008

O vestido

O vestido ainda pendurado no cabide. Sem estréia, me lembra o seu destino. De usá-lo para trazer prosperidade no ano que se aproximava. Mas ele permanece ali, pelo avesso para que os dias não o envelheçam, para que se mantenha novo para um próximo ano. Ainda com etiqueta e cheiro de novo, ocupa o espaço físico, porque o emotivo não lhe pertence mais. Não é dor, não é saudade. É esperança. Assim como a esperança que o trouxe para o armário. Não há pressa. Os dias sempre vêem novos e prometem a aurora que a ele lhe pertence. Está ali, guardado, sempre à espreita de vestir o corpo para o qual foi pensado.

Não é vestido de uma outra dona como o de Drumond (Caso do vestido). É um vestido vivo da cor de ouro para vestir um corpo morno, de pele alva, sem decote, com o qual sugere, não devassa. Não é peça de luxo e tampouco é lembrança. Há, sim, um vestido, não escondido, mas guardado, assim como o seu motivo guardado para ser vestido.

Um comentário:

Tamara Eleutério disse...

pior é quando vc consegue, diante da profunda agonia pelo 'novo', guardar um vestido branco (ou uma ação infalível) pra ocasião (nesse clima desapressado e confortável) e quando resolve usar não lembra de boa parte do que aconteceu...

e no fim a esperaça (essa paca gorda, como diz o cortázar) ainda me comove.