sexta-feira, 25 de julho de 2008

Selva aqui dentro II

Em menos de uma semana, em exatos cinco dias de disponibilidade, curiosidade e paixão, termino a leitura de um romance de mais de duzentas páginas. Ao fim, não repito a questão que deixei em texto anterior. Não desejo especular se aquilo tudo ocorreu na realidade ou não. Seria, no mínimo, indiscreto e inútil sabê-lo.

O que me ocorreu, surpreendentemente, foi a transposição da história para a minha vida ou a inversão da realidade para papéis que não escrevi. Fui Adriano Pontes, fui Lana Martins. Agora não me vejo como aqueles cidadãos que abordam atores e atrizes nas ruas. Vi-me nos personagens e questiono se todo leitor e/ou espectador se vêem nas páginas e tela à sua frente?! É narcisismo ver-se dessa forma ou é busca do conforto da semelhança?

O livro é delicioso, de fato, mas senti o gosto doce e amargo de suas páginas. Doce pela fruição da história, pelo despudor de cenas e personagens, pelo português bem escrito, pela convergência de admiração e realidade. Amargo por uma questão estritamente pessoal. Vi-me demasiadamente nas cenas e descrições do capítulo final. O desenrolar dos últimos acontecimentos tocaram-me no âmago, e o autor deixou-me sem chão… Li ininterruptamente para buscar o desfecho, mas ele propositadamente o deixa em reticências…

O gosto do encontro é acre-doce, bom e ruim, confortável e desagradável. É como se a língua não soubesse discernir qual sabor prepondera ao deparar-se com o alimento em sua boca. É um delicioso que intriga, incomoda, perturba. E o autor, em sua maestria, enfatiza o que sabe ser o seu intento e sabor. E, assim, mantém o suspense do leitor ao comunicá-lo para as próximas leituras. Ou melhor, não é bem uma comunicação, mas uma convocação. Sente-se falta de um ponto final, pois se busca o que é diferente no plano real, visível, tangível.

Infelizmente o livro não está disponível em estantes. Posso gabar-me de haver sido enviado por e-mail para o meu inexpressível deleite. Só posso esperar que o autor decida publicá-lo e ele possa integrar a minha modesta prateleira de livros, com uma dedicatória e um belo autógrafo, e que outros também possam deliciar-se. Parabenizo quem um dia foi meu professor. E, um dia professor, eterno mestre. "Tim-tim" a todos que habitam a selva, não se utilizam de máscaras ou os que dela se utilizam para que a invisibilidade seja uma defesa, uma necessidade ou uma mera exigência da loucura e da inadaptabilidade ao cotidiano, ao morno, ao linear.

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