segunda-feira, 11 de agosto de 2008

O malandrão carioca

Luiz Melodia em um palco não é um show, é uma festa. Num visual de um verdadeiro malandro carioca – terno branco, camisa branca por fora da calça e sapatos bicolores – o cantor agitou a sala Villa Lobos do Teatro Nacional com sambas das décadas de 30, 40 e 50. O repertório integra seu último cd – Estação Melodia –, que inclui músicas de Ismael Silva, Cartola, Oswaldo Melodia (seu pai), Jamelão, entre outros compositores. Este é o 13º álbum de sua carreira.

Irreverência é o tom da festa. Brincadeiras com integrantes da banda, o andarzinho à la Charles Chaplin, o samba no pé de um autêntico morador dos morros cariocas, fazem-nos sentir próximos ao artista. Não há distância, não há palco elevado, não há artista e platéia. São todos juntos ao mesmo nível na celebração da boa música brasileira.

Um belo momento da festa é quando Melodia senta-se em um daqueles banquinhos altos e anuncia uma música em homenagem à sua gente do Morro de São Carlos, comunidade no bairro do Estácio, zona norte do Rio de Janeiro. Composta por Garoto, Chico Buarque e Vinicius de Moraes, o sambista canta Gente humilde numa linda e carinhosa interpretação. O interessante de Luiz Melodia é sua história e relação com o morro. Não faz disso piedade ou “espetáculo da miséria”. Sua origem e sua vivência são naturais, espontâneas e inegáveis.

Ninguém nunca foi a um show em que um artista possa dizer: "Não riam. Vou precisar sair do palco e vocês fiquem com essa banda maravilhosa". Após risadas e umas duas músicas sem Melodia, ele volta de sandálias e com uma camisa estampada com coqueiros. Ainda mais irreverente, Luiz circula pelas composições de anos atrás. A despedida de palco é única. Melodia e toda a sua banda de pé na percussão cantarolam o sambão de seu pai Linda Tereza. Um fim que não chega nunca e quando termina dá uma saudade e uma certeza de nunca perder um show de Luiz Melodia.

“(...) São casas simples
Com cadeiras na calçada
E na fachada
Escrito em cima que é um lar
Pela varanda
Flores tristes e baldias
Como a alegria
Que não tem onde encostar
E aí me dá uma tristeza
No meu peito
Feito um despeito
De eu não ter como lutar
E eu que não creio
Peço a Deus por minha gente
É gente humilde
Que vontade de chorar”
(Gente humilde)

3 comentários:

Anônimo disse...

Samba bom, texto com ritmo de coisa boa!
Gostei. Parabéns.

Elaine Pivoto disse...

Já gostei muito mais de Luiz Melodia (e o respeito muito). Quando ouvia suas canções a 10 anos atráz não teinha noção do sentido enfático de suas interpretações e composições, por vezes mostrando sua irreverência camuflada em preciosas pitadas de veneno. Parece até que nasceu para vingar! Admiro a latitude de sua veia expressiva e musical. Acho que a humanidade toda deveria cantar e aprender a tocar um instrumento musical! Bjos.

Unknown disse...

Excelente texto. O Show foi ótimo também,né?
Continue assim,branquelinha!
Te admiro muito!
Beijoos,Rafael Cappai!