terça-feira, 23 de setembro de 2008

Agora, sim, Borges.

Preservei uma impressão, adquiri opinião distinta, e hoje construí a minha própria idéia. Jorge Luis Borges é um gênio. Em tempos de faculdade, dizia-se que ele era isso e aquilo, mas ainda não tinha me apaixonado por literatura ou sentido sua necessidade. Anos mais à frente, li uma matéria e... Que decepção! Como alguém tão sublime podia ser racista e a favor de militares no governo?

Então parti Borges ao meio até a literatura virar um vício e ele ocupar um lugar na fileira de livros que me impus. Com a mania assumida publicamente, ganho O Aleph de presente de aniversário de meus 27 anos. Ao terminar outras leituras, mergulho em seus contos. Sim, demorei propositalmente em suas histórias. Dificilmente me concentrava em seus dois primeiros parágrafos, lia e relia, mas, rapidamente, me encantei por suas palavras.

O Aleph foi o típico livro que adiei o fim. Não queria terminá-lo nunca, apesar da lista de obras crescer incessantemente. Admirava-me a sua criatividade, a sua delicadeza, suas referências, as surpresas, o fantástico dos enredos. Certamente sonhei entrevistando-o a fim de descobrir de onde tantas idéias brotavam, mas infelizmente não me recordo de minhas atividades jornalísticas oníricas.

Ao fim de cada conto, precisava desligar-me. Só lia outro no dia seguinte, pois precisava viver e digerir tamanha genialidade. O Aleph também é um dos meus livros que não empresto. É expor-me demasiadamente a quem o abrir. Grifos, círculos, anotações de dicionário. Outra mania que adquiri junto ao próprio vício pela literatura. Costumo imaginar sendo enterrada junto a eles como se ali estivessem meus segredos, meus mistérios, meus medos, meus sonhos.

Todos os contos são um mergulho, mas uns são ainda mais profundos. Chamaram-me a atenção especialmente O imortal, Os teólogos, História do guerreiro e da cativa, Biografia de Tadeo Isidoro Cruz, Deutsches requiem, A busca de averróis, O zahir, A escrita do deus, e, obviamente, O Aleph.

Borges é definitivamente fantástico, em suas duas acepções. No entanto, há ainda outros tantos autores a descobrir... Philip Roth, Milton Hatoum, Inês Pedrosa, Leon Tolstoi, Virginia Woolf... E outros tantos a redescobrir... Samuel Rawet, Italo Calvino, Fiodor Dostoievski, Julio Cortazar, Franz Kafka, Machado de Assis, Guimarães Rosa... E, é claro, Jorge Luis Borges.

“Na rua, nas escadas da Constitución, no metrô, todos os rostos me pareceram familiares. Temi que não restasse uma só coisa capaz de me surpreender, temi que nunca mais me abandonasse a impressão de voltar. Felizmente, ao cabo de algumas noites de insônia, de novo agiu sobre mim o esquecimento”.
(O Aleph, pg. 151)

Um comentário:

Anônimo disse...

E um belo dia você acaba descobrindo que Borges não existe, foi uma ficção criada por Bioy Casares para se divertir, que acabou dando certo. Aí, ele contratou um cara para realmente desempenhar o papel de um tal Jorge Luis Borges, o papel colou, as pessoas gostaram... Muito bom você ter incluído, entre os autores necessários, Roth. Recomendo fortemente a leitura. É um autor e tanto. Uma literatura de tensão, de desafio, de briga, ao mesmo tempo muito muito intensa. Beijos. Paulo Paniago.